Escrito por Ana Sousa Publicado em 30 de Abril de 2008
O
primeiro equídeo de que há registos foi classificado pelo nome de
Hyracotherium. Era um pequeno animal de floresta nos primórdios do
Eoceno.
Este pequeno animal, que não
media mais de 30 cm ao garrote era muito diferente em aparência dos
cavalos que vemos hoje em dia. Era na verdade um pouco parecido com um
cão: dorso arqueado, pescoço curto, pernas curtas e uma longa cauda.
A
sua alimentação era à base de frutas e folhagem de árvores. Graças à
sua morfologia, este pequeno animal tinha tanta facilidade em saltar
como um veado, sendo apenas mais lento e um pouco menos ágil.
Este pequeno equídeo foi em tempos conhecido pelo nome de Eohippus, que significa “cavalo do amanhecer”.
O Hyracotherium tinha algumas características que devem ser referidas:
- Sendo um animal de floresta/pântano, possuía quatro dedos em cada
membro anterior e três em cada membro posterior. Aquilo que é
actualmente o casco era uma das unhas, estando ainda presente em alguns
cavalos a segunda unha vestigial. A forma como o Hyracotherium apoiava
as patas era semelhante á dos cães, exceptuando o facto de ter
pequeninos “cascos” em cada dedo, em vez de ter garras.
- Cérebro pequeno, com lobos frontais especialmente pequenos.
- Baixa inserção dos dentes, sendo a dentição composta por três
incisivos, um canino, quatro pré-molares distintos e três molares
“moedores” em cada lado de cada mandíbula (esta é a constituição
dentária dos mamíferos mais primitivos). As cúspides dos molares foram
ligeiramente unidas em cristas baixas, dentição típica de um animal
omnívoro.
Nesta altura da era Eoceno os equídeos não eram muito diferentes dos restantes membros do grupo perissodáctilo.
O
género em que se inclui o Hyracotherium inclui também outras espécies
que podem estar até relacionadas (ou mesmo ser ancestrais) com o
rinoceronte e o tapir.
Fazendo uma
retrospectiva, o Hyracotherium, apesar de ser bastante primitivo, foi um
animal que se adaptou perfeitamente ao meio onde habitava. Aliás, ao
longo da maior parte do Eoceno, esta espécie sofreu poucas alterações. O
corpo e membros mantiveram-se praticamente inalterados, apenas com
ligeiras diferenças nos dedos. A maior alteração deu-se ao nível da
dentição. À medida que os equídeos começavam a comer mais plantas e
menos fruta, começaram a desenvolver mais dentes de moer, para melhor
lidar com o novo tipo de alimentação.
Orohippus
Aproximadamente
a meio do Eoceno houve uma gradual transição do Hyracotherium para um
parente próximo. O Orohippus era em tudo semelhante ao Hyracotherium,
costas arqueadas, pescoço curto, “patas de cão”, focinho curto, etc.
A
alteração mais significativa verificou-se nos dentes. O forma do ultimo
pré-molar alterou-se, dando ao animal mais um “dente moedor”. A juntar a
isto, as cristas nos dentes eram mais pronunciadas, indicando que o
Orohippus estava a comer alimento mais rijo.
Epihippus
O
Epihippus surgiu do Orohippus. Tal como os seus antecessores, possuía
ainda bastantes semelhanças com um cão. Cérebro pequeno, quatro dedos
nos anteriores e três nos posteriores, patas com almofadas plantares. No
entanto a forma dentária continuava a evoluir. Nesta altura os dois
últimos pré-molares tornavam-se semelhantes aos molares, proporcionando
ao animal cinco “dentes moedores”.
Há
uma fase posterior do Epihippus, algumas vezes chamada de
Duchesnehippus. Não está provado se seria um sub-género ou uma espécie
de Epihippus. Este animal era basicamente um Epihippus com uma dentição
semelhante ao mesmo, apenas um pouco mais primitivo do que o posterior
cavalo do Oligoceno.
Fim do período Eoceno, inicio do Oligoceno
À
medida que se aproximava o Oligoceno, a fisionomia dos cavalos começava
a sofrer algumas alterações. O clima da América do Norte estava a
tornar-se mais seco, as ervas a começar a desenvolver-se e as vastas
florestas estavam a começar a diminuir de tamanho. A resposta dos
animais a esta alteração do seu habitat natural foi o desenvolvimento de
uma dentição mais resistente, o alargamento do corpo e começaram a
surgir animais um pouco mais altos e com membros que lhes permitiam a
fuga em caso de necessidade, uma vez que cada vez mais viviam em espaços
abertos.
Mesohippus
A
espécie Mesohippus celer surgiu “repentinamente” no ultimo período do
Eoceno. Este animal era ligeiramente mais largo e mais alto que o
Epihippus, medindo cerca de 50 cm ao garrote. Já não era tão semelhante a
um cão. Tinha o dorso menos arqueado, os membros mais compridos, o
pescoço mais longo e mais fino, o chanfro estava também mais largo e
mais comprido.
O Mesohippus tinha
três dedos nos seus posteriores e nos anteriores o que era o quarto dedo
estava agora reduzido a uma unha vestigial que com o passar do tempo
acabaria por desaparecer.
Outras alterações significativas:
· Hemisférios cerebrais notoriamente mais largos.
· Os últimos três pré-molares eram semelhantes aos molares,
proporcionando ao Mesohippus um conjunto de seis “dentes de moer”
semelhantes, com apenas um pré-molar na frente.
· Tem as mesmas cristas de dente que o Epihippus, bem-formadas e agudas, mais próprias para moer a vegetação mais resistente.
Miohippus
Pouco
depois do aparecimento do Mesohippus celer e do seu parente próximo
Mesohippus westoni, surgiu um animal semelhante, o Miohippus
assiniboiensis.
Esta transição
ocorreu algo “repentinamente”, mas felizmente foram encontrados alguns
fósseis de transição que permitiram relacionar os dois géneros. Um
Miohippus era notoriamente mais largo do que o típico Mesohippus,
possuindo também um crânio ligeiramente mais longo.
O
Miohippus começou também a apresentar uma crista nos seus dentes
superiores. Esta crista tornou-se uma característica nas mais recentes
espécies equinas.
Primórdios do Miocénio
O
Mesohippus acabou por desaparecer a meio do Oligoceno. O Miohippus
continuou a existir durante algum tempo tal como era, e logo no
principio do Miocénio começou a modificar-se rapidamente. A família de
cavalos começou a separar-se em pelo menos 2 linhas principais de
evolução e mais um pequeno ramo distinto.
1º
– Indivíduos com três dedos em cada membro. Estes indivíduos
tornaram-se bastante resistentes, espalhando-se gradualmente pelas
planícies. Sobreviveram durante cerca de dez milhões de anos. Mantiveram
a dentição do Miohippus. Este género inclui o Hipohippus e o
Megahippus.
2º – Uma linha de cavalos pigmeus, que acabaram por não sobreviver durante muito tempo. Eram os Archeohippus.
3º – Uma linha de indivíduos que evoluiu através da alteração dos
hábitos alimentares, tirando partido dos novos tipos de pasto.
Grandes
planícies começavam agora a surgir, criando uma nova oportunidade aos
“comedores de erva”. Estes precisavam de uma dentição forte e
resistente, pois este novo tipo de alimentação era mais difícil de
mastigar.
O cavalo como animal de planície
À
medida que a terceira linha de cavalos do Miocénio se começava a
alimentar unicamente de ervas, diversas alterações começaram a ocorrer,
começando obviamente pela dentição. As pequenas saliências nos dentes
começaram a alargar e a formar uma espécie de cristas que ajudavam a
moer a comida. Houve um aumento na altura das coroas dos dentes, para
que estes pudessem continuar a crescer depois do desgaste do topo do
dente, desgaste esse que era provocado pelo movimento continuo de
mastigar.
Estes cavalos tornaram-se
exímios corredores. Houve um aumento no tamanho do corpo, no comprimento
dos membros e no comprimento do chanfro. Alguns ossos que antes estavam
unidos por ligamentos começaram a fundir-se. A musculatura das pernas
tornou-se ideal para os movimentos de andar para a frente e recuar. A
alteração mais significativa foi o facto de a partir de dada altura o
cavalo começou a manter-se em “pontas dos pés“, ou seja, em vez de
apoiar todos os dígitos no chão (como um cão, por ex) passou a apoiar o
peso de cada membro sobre um único casco que se desenvolveu com essa
finalidade. Esta alteração permitia uma maior velocidade em caso de
necessidade de fuga.
Esta foi uma das
épocas mais interessantes no que toca á evolução do cavalo. A
transições podem ser vistas nos seguintes exemplos.
Kalobatippus
Este
género não é dos mais conhecidos, mas o seu tipo de dentição parece ser
um meio termo entre o Miohippus e o posterior Parahippus.
Parahippus
Parahippus
Surgiu
no inicio do Miocénio. O típico Parahippus era um pouco mais largo que o
Miohippus, mas mantendo uma forma corporal semelhante e um tamanho de
crânio igual. O Parahippus ainda mantinha os seus três dígitos, mas
estava a começar a desenvolver os ligamentos elásticos que seriam de
grande utilidade quando fosse um animal com apenas um digito.
O
Parahippus mostrou modificações graduais nos seus dentes, inclusive o
estabelecimento permanente da crista extra que foi tão variável no
Miohippus. O Parahippus evoluiu rapidamente até se tornar um cavalo
rápido e ágil, ao qual foi dado o nome de Merychippus gunteri.
Os
fósseis encontrados de Parahippus (Parahippus leonensis) que foram
encontrados, são na verdade tão semelhantes ao Merychippus que se torna
difícil traçar uma linha entre os dois géneros.
Merychippus
Um
Merychippus media aproximadamente cerca de 80 cm, o maior cavalo
daquela altura. O chanfro alongou mais um pouco, o maxilar tornou-se
mais profundo, os olhos do cavalo “moveram-se” um pouco mais para trás,
para dar espaço ás grandes raízes dos dentes, o cérebro aumentou de
tamanho, tendo um neocortex fissurado e um maior cerebelo, o que fazia
do Merychippus um cavalo mais inteligente e mais ágil do que os
restantes.
O Meryhippus possuía ainda
três falanges, no entanto o peso de cada membro já assentava unicamente
sobre um casco, que mantinha o seu movimento através de uma rede de
ligamentos bastante elásticos e resistentes. O rádio e o cúbito do
antebraço fundiram-se, eliminando assim a rotação do membro. Do mesmo
modo a fíbula sofreu uma diminuição no seu tamanho.
Todas
estas mudanças ocorreram para que o cavalo em corrida conseguisse ter
mais velocidade e agilidade de movimentos, mesmo em terrenos difíceis!
Fins do Miocénio
Nos
fins do Miocénio o Merychippus foi um dos primeiros animais a habitar
as planícies. Este animal rapidamente evoluiu e deu origem a 19 novas
espécies de cavalos que se dividiram em três grandes grupos.
1º
– Os herbívoros de três falanges. Este género era extremamente
resistente e adaptou-se bem ao seu novo habitat. O Merychippus
dividiu-se em 4 diferentes géneros e cerca de 16 espécies. Estes
espalharam-se desde o Novo mundo até ao velho mundo, em várias épocas de
migração conjunta.
2º – Uma linha de cavalos mais pequenos que incluía os Protohippus e os Calippus.
3º – Uma linha de “verdadeiros equinos”, nos quais as falanges laterais
estavam a diminuir de tamanho. O Merychippus deu origem a duas novas
espécies: O M. sejunctus e o M. isonesus. Estes por sua vez deram origem
ao M. intermontanus, M. stylodontus e M. carrizoensis.
Como
esta breve lista mostra, novas espécies surgiram em rápida sucessão, em
todos os três grupos. Esta rápida especificação torna difícil
determinar exactamente quais espécies surgiram primeiro, ou quais deram
origem a quais.
Através de toda a
evolução das várias espécies, a fossa nasal destes animais tornou-se
mais complexa. As novas espécies que entretanto foram surgindo foram
desenvolvendo um certo tipo de glândulas semelhantes ás que possuem
actualmente os veados e antílopes.
Cavalos com uma única falange (casco)
Concentremo-nos
agora na linha do Merychippus, linha essa que conduziu aos “verdadeiros
cavalos”. As ultimas espécies desta linha, tais como o M. carrizoensis
eram cavalos largos, com pequenas unhas vestigiais na lateral do casco,
na linha que divide o casco da quartela. Estes deram origem a dois
grupos distintos que com o tempo acabaram por perder as unhas
vestigiais. Á medida que estas alterações anatómicas ocorriam,
desenvolviam-se ligamentos que tinham como objectivo ajudar a manter o
casco estável durante a corrida em terreno difícil. Este grupo incluía:
Pliohippus
Surgiu
a meio do periodo Miocénico como um animal ainda com três unhas. A
perda gradual das unhas é visto no Pliohippus através de três diferentes
épocas do Miocénio.
O Pliohippus era
bastante semelhante ao posterior Equus, o que fez com que até
recentemente se pensasse que seria o seu antecessor directo. Duas
diferenças significativas esclareceram este ponto. O Pliohippus tinha
uma fossa nasal bastante funda, enquanto que a do Equus não era tão
funda. Além disso, os dentes do Pliohippus eram bastante mais curvados
do que os do Equus.
Apesar de o Pliohippus estar relacionado com o Equus não foi uma evolução directa de um para o outro.
Astrohippus
O
Astrohippus foi um dos descendentes do Pliohippus, outro cavalo que
tinha apenas uma unha (casco). Este animal possuía também uma fossa
nasal bastante pronunciada.
Dinohippus
E
finalmente a terceira geração de cavalos com uma só unha (descobertos
recentemente). O antecessor directo do Dinohippus ainda não é conhecido.
As espécies mais recentemente conhecidas são o D. spectans, D.
interpolatus, e D. leidyanus. Estes já tinham diversas parecenças com a
espécie Equus, no que toca á anatomia do casco, dentes e forma do
crânio. Os dentes eram ligeiramente mais estreitos do que no
Merychippus, e as fossas nasais diminuíram significativamente. Uma
espécie que surgiu um pouco mais tarde foi chamada de D. mexicanus. Esta
espécie tinha os dentes ainda mais estreitos e fossas nasais menores.
O
Dinohippus era o tipo de cavalo mais comum na América do Norte, e
acredita-se que tenha dado origem ao Equus (relembremos que o Equus
tinha os dentes muito estreitos, direitos e quase não tinha fossas
nasais.
Equus
Chegamos
então ao Equus, a génese de todos os equinos modernos. O primeiro Equus
media cerca de 90cm/1m (?) mas já possuía um corpo de cavalo. Coluna
rígida, pescoço longo, pernas compridas, alguns ossos dos membros
fundidos e sem nenhuma rotação, chanfro comprido, curvilhões baixos. O
cérebro era um pouco mais baixo do que no Dinohippus. Tal como o
Dinohippus, o Equus era (e é) um animal com uma única unha (casco),
possuindo ligamentos elásticos que impedem que o casco torça ou saia do
sitio.
Os exemplares da espécie Equus
possuem ainda o código genético que faz com que continuem a surgir
unhas vestigiais. Por vez acontece um poldro nascer com unhas
completamente formadas, mas de tamanho diminuto.
As
mais recentes espécies de Equus conhecidas formavam um grupo de três,
conhecido como Equus simplicidens. Estes tinham ainda algumas
características primitivas do Dinohippus, tais como uma ligeira fossa
nasal. Tinham também listras de zebra e um crânio de burro. Tinham
provavelmente crinas duras e erectas, uma cauda com pouco pêlo, membros
listrados e alguma perda de pêlo no corpo.
Estes
diversificaram- se rapidamente em 4 grupos diferentes, e pelo menos 12
espécies novas. Estas novas espécies coexistiram pacificamente com
outras como o Astrohippus, enquanto prosseguiam a sua evolução natural.
Durante a primeiro era glaciar (fim do Pliocénio) várias espécies de
Equus migraram para o Velho Mundo.
Algumas
entraram em África e deram origem ás zebras que conhecemos actualmente.
Outras espalharam se através da África do Norte, evoluindo para
espécies adaptadas a condições desérticas. Outras espécies espalharam-
se através da Ásia e Europa, mais concretamente aquele que foi
considerado o “verdadeiro cavalo”: Equus caballus. Outras espécies Equus
espalharam-se pela América no Sul.
Comparemos
o Equus ao Hyracotherium e podemos concluir que nunca poderiam ser
considerados do mesmo “tipo” pois as diferenças entre ambos sugerem uma
evolução a longa escala.
Equinos Modernos
Gradualmente
foram desaparecendo os cavalos com três unhas. A maioria dos cavalos
com uma unha, que habitavam na América do norte acabaram também por
desaparecer à medida que tinha lugar uma era glaciar. No entanto, os
exemplares da espécie Equus conseguíram resistir até cerca de um milhão
de anos atrás. A espécie Equus estava presente por todo o território de
África, Ásia, Europa, América do Norte e América do sul.
No
Pleistocénio, na América do Norte e América do Sul houve diversas
espécies que se extinguiram, incluindo grandes mamíferos. Todas as
espécies equinas que habitavam estas zonas desapareceram, assim como o
mamute e o tigre dentes de sabre.
Estas
extinções em massa parecem ter sido causadas por uma combinação de
alterações climáticas, assim como um excesso de procura e caça destes
animais.